quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A IGREJA OU DILMA, QUEM TEM RAZÃO? PARA A REFLEXÂO...



É bom conversar... Principalmente com gente inteligente! Como estamos em época de eleições geralmente as nossas conversas são sobre os nossos candidatos ao pleito, principalmente sobre o perfil dos presidenciáveis.
Tornou-se público nestes dias a estratégia político – religiosa de uma parcela da Igreja no sentido de “demonização do Partido dos trabalhadores do Brasil” e da sua candidata Dilma. Com efeito, ontem tive oportunidade de conversar sobre o assunto com três amigos, um dos quais é Doutor em Teologia pelo Vaticano. Com exceção do meu, o nome dos meus amigos aqui serão fictícios por não ter tido a oportunidade de lhes comunicar minha intenção de publicar a nossa maravilhosa conversa de ontem.

- Não crês Portelinha, na qualidade de cientista político, que as Igrejas devem participar na vida política do país, embora a laicidade seja uma conquista inegociável do nosso Estado brasileiro? Perguntou-me um dos meus amigos, José.

- Não vejo nenhum problema! Em regimes democráticos como o estado brasileiro, existem mecanismos de participação política e popular cuja finalidade é a construção de uma estrutura governamental cada vez participativa. Entendo, inclusive, que os ministros de confissão religiosa seja ela qual for, têm o direito de pleitearem cargos públicos enquanto cidadãos. Sem dúvida, a meu ver, todos os ramos das atividades salutares humanas que concorrem para o aprimoramento de todas as instituições e produzem um elevado padrão de vida física, material, moral, intelectual e espiritual de um povo (ou povos) devem ser buscados e cultivados pelos religiosos, inclusive a política! Outra coisa é fomentar boatos com fins escusos! Respondi.


- Olha, eu vejo com muita preocupação a posição de muitos lideres evangélicos e católicos manipularem seus membros no sentido de não votarem na Dilma com base em simples boatos e com discursos de fazer política partidária. É também função da Igreja essa responsabilidade?

- De fato essas Igrejas em vez de converterem os políticos ao Evangelho, eles é que se convertem em políticos profissionais! (rsrsrsrsrs). E o pior disso tudo, continuei, é que alguns deles apresentam-se como detentores de um mandato divino por serem pastores ou padres e passam a imagem de que também, agora, detém um mandato adjacente para atuarem na área de legislação e administração públicas.

- Vocês sabem que muitos pastores, inclusive a própria Igreja católica, pedem para que seus fieis não votem na candidata do PT? Dom Luiz Gonzaga Bergonzi, por exemplo, disse em entrevista ao GI que orientara os padres da cidade a pregar nas missas o voto contra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Interroga Daniel.

- E são discursos difamatórios que quase sempre se caracterizam por exemplos isolados recortados da realidade! Uma das armas prediletas da difamação é sempre a manipulação, que se dá quase sempre pelo uso de falas e declarações retiradas do contexto maior de onde foram emitidas! Até já dizem que o Vice da Dilma é satanista e fazem campanha para que seus membros não votem na Dilma porque, segundo eles, ela “defende o aborto” Comentou José.

- Mas se não me engano foi José Serra, então Ministro da Saúde em novembro de 1998, que assinou uma Norma Técnica da sua pasta implantando o atendimento na rede SUS de toda mulher, vítima de violência sexual, interessada em praticar o aborto
- Inclusive, naquela altura, foi feito um manual que descrevia as técnicas a serem utilizadas! Disse José

- Olha, para sermos justos foi até defensável do ponto de vista de saúde pública! Poderei

- E as Igrejas condenaram? Perguntou minha esposa.

- A Norma mereceu uma condenação enfática da 45ª Reunião da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
- Se quiseram – propôs José - eu até tenho a carta da CNBB que consegui na Internet. Podem ler...
“ Excelentíssimo Sr. Dr. José Serra
Ministro da Saúde
Senhor Ministro,
Em nome do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, reunido em Brasília/DF, de 22 a 25 deste mês, venho manifestar nosso apreço pelas iniciativas em tornar os medicamentos mais acessíveis à população brasileira. Merece destaque o congelamento do preço dos remédios até o fim do ano corrente. Não podemos, porém, deixar de expressar nossa rejeição à assinatura, em 9 de novembro de 1998, da Norma Técnica "Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes", a qual instrui os Hospitais do SUS a praticarem aborto em crianças de até cinco meses de vida, que tenham sido geradas em um estupro. Como pastores da Igreja, entendemos que é nossa missão trabalhar sempre em favor da vida, e que a criança concebida tenha sua vida tão respeitada quanto a vida da mulher violentada. Em defesa da "cultura da vida" e da consciência ética, tão defendida pela Igreja, que qualificou o aborto de "crime abominável", solicitamos a revogação imediata de tal Norma Técnica, ao mesmo tempo que pedimos assistência prioritária às vítimas de violência sexual. Dispomo-nos a fazer o que estiver ao nosso alcance para assistir as mulheres estupradas, sem, porém, jamais atentarmos contra a vida do nascituro.
Pelo Conselho Permanente da CNBB
Dom Raymundo Damasceno Assis
Secretário Geral da CNBB
Brasília, 25 de agosto de 2000.”

- Mas quando Serra se candidatou a Presidente em nenhum momento fizeram uma campanha para não votarem nele por essa razão. Estranho não é? Questionei

- Olha, eu trabalho na Saúde se vocês quiserem eu até vou buscar o Manual que descreve as técnicas a serem utilizadas, cuja apresentação foi assinada pelo então ministro Serra! – Propôs Daniel

-Vai buscar! Pedimos todos

Quando voltou nos mostrou o manual que dizia:

“Até 12 semanas, o médico poderá optar pelo esvaziamento da cavidade uterina, de acordo com dois métodos. O primeiro, a dilatação do colo uterino e a curetagem. O segundo, a aspiração manual, além de um jogo de dilatadores anatômicos, seringas com vácuos. "A técnica consiste em dilatar o colo uterino até que fique compatível com a idade gestacional. Introduz-se a cânula correspondente e se procede à aspiração da cavidade uterina, tomando-se o cuidado de verificar o momento correto do término do procedimento, ocasião esta em que se sente a aspereza das paredes uterinas, a formação de sangue espumoso e o enluvamento da cânula pelo útero, e em que as pacientes sob anestesia para cervical referem cólicas".
I - APRESENTAÇÃO
As mulheres vêm conquistando nas últimas décadas direitos sociais que a história e a cultura reservaram aos homens durante séculos. no entanto, ainda permanecem relações significativamente desiguais entre ambos os sexos, sendo o mais grave deles a violência sexual contra a mulher.
É dever do Estado e da Sociedade civil delinearem estratégias para terminar com esta violência. E, ao setor saúde compete acolher as vítimas, e não virar as costas para elas, buscando minimizar sua dor e evitar outros agravos.
O braço executivo das ações de saúde no Brasil é formado pelos estados e municípios e, é a eles que o Ministério da Saúde oferece subsídios para medidas que assegurem a estas mulheres a harmonia necessária para prosseguirem, com dignidade, suas vidas.
José Serra
Ministro da Saúde”

- Na apresentação da norma "PREVENÇÃO E TRATAMENTO DOS AGRAVOS RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES E ADOLESCENTES", Serra trata o aborto como um direito da mulher. Acho até louvável como política pública... Todos Estados modernos e democráticos defendem essa política louvável! Ponderei.

- Tu defendes o Serra? – Um deles me perguntou.

- Não se trata de defender o candidato Serra ou não. Estou defendendo é o Direito das Mulheres! Respondi.

- Vocês ainda não viram qual é o real problema! – Disse José

E explicou:
- O que me causa espécie é que Serra, agora, engrosse o coro dos que pretendem condenar Dilma Rousseff por uma opinião sobre uma política implementada por ele próprio!

- Dá para entender esse mundo?! Disse um senhor que estava perto do local da nossa discussão.

Mas mudando um pouco de assunto... Propus

- Interessante! Vocês já viram que eles não denunciam a fome, a falta de segurança no país, a pedofilia no meio católico e entre os pastores, como aniquidades!

- É verdade, Portelinha, eles nunca se mobilizaram contra a pedofilia! Ainda pareço ver aquelas imagens terríveis de vídeo amador mostrando um jovem a filmar às escondidas um padre de 82 anos em pleno ato sexual. E depois das denúncias, os repórteres tentaram uma reação do padre que foi filmado e o sacerdote disse apenas que era um assunto de confessionário!

- Isto é aqui no Brasil! - Disse Daniel - Há o caso de um Padre espanhol que tinha mais de 400 horas de gravações de pornografia infantil... Na Alemanha... Na Irlanda onde o seu cardeal primaz, está no centro da polêmica por ter ocultado abusos sexuais cometidos contra menores pelo clero! Em Portugal, o caso mais conhecido de pedofilia a envolver a Igreja remonta a 1993 quando Padre Frederico é condenado pela prática de pedofilia com jovens do sexo masculino. O religioso acaba por fugir para o Brasil onde dá entrevistas no Rio de Janeiro! E Por que eles não se mobilizam para combater tais iniqüidades e dizem que os outros é que são iníquos?

- É verdade, fazem uma política de demonização do PT, e não levam em consideração que tal processo nega o legado histórico do partido dos trabalhadores na construção de um projeto político nascido nas bases populares e identificado com a inclusão e justiça social. Os que afirmam o nascimento de “um império iniqüidade”, com a possível vitória do PT nas atuais eleições, “esquecem” o fundamental papel deste partido em projetos que trouxeram mais justiça para a nação brasileira. O que é iniqüidade? Não é a pedofilia? A inquisição? O silêncio quando Hitler massacrou milhares de Judeus e Ciganos? Ou é o combate a miséria e a justiça social preconizada pela candidata Dilma? Questionei

João Portelinha, Professor da UFT, Presidente da APL e analista político. joaoportelinhadasilva@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário